(Trabalho apresentado na Vídeo-Conferência, promovida pela ACAPO e que teve lugar no dia 24 de Maio de 2001)
Todo o tipo de escrita tem evoluído positivamente ao longo dos tempos. Sempre existiram diversificadas formas de escrita, atendendo às necessidades específicas dos usuários. A leitura surge como consequência imediata, na medida em que é preciso interpretar os escritos. E a leitura é uma das formas essenciais da apreensão do conhecimento humano, isto é, um infinito horizonte aberto sobre a realidade que nos envolve, onde constatamos aquilo que os outros sabem e pensam, encontrando-se no papel a cronologia dos acontecimentos desde há milhares de anos.
Até quase ao fim da Idade Moderna não há notícias de que alguém se tenha debruçado sobre a escrita e leitura para os cegos, visando a sua educação, valorização, promoção social e preparação profissional.
A primeira informação que nos chega situa-se em 1784, quando Valentin Haüy, um homem culto e de nobre coração, funda em Paris uma escola para instruir os cegos e prepará-los para a vida. Apologista das filosofias sensistas - defensoras de que tudo depende dos sentidos -, adapta o alfabeto vulgar, traçado em relevo, a fim de que as letras fossem perceptíveis pelos dedos dos destinatários.
Também, por essa época, Charles Barbier de la Serre, um capitão de artilharia, aperfeiçoava um código através de pontos, que podia ler-se com os dedos e era usado para encobrir o segredo das mensagens militares e diplomáticas, a que chamou "escrita nocturna" ou "sonografia".
Após várias alterações e melhoramentos, Barbier apresentou o método na instituição de Valentin Haüy.
Foi a partir deste código que Luís Braille iniciou a sua investigação, no intuito de superar as imensas dificuldades que se lhe deparavam a todo o instante e oferecer aos seus congéneres um sistema que lhes abrisse as janelas para o amplo mundo da cultura, que lhes estava vedado.
Nascido a 4 de Janeiro de 1809, de uma família modesta, Luís Braille era natural de Coupvray, uma pequena aldeia vizinha de Paris. O pai era correeiro e, quando um dia o filho, apenas de 3 anos, brincava com uma sovela, feriu-se num dos olhos, tendo-se a infecção propagado ao outro, provocando a cegueira total.
Em 1819 o pai conseguiu interná-lo na instituição de Valentin Haüy, onde se revela um aluno inteligente, empenhado e sôfrego pelo saber. Aprende música e tudo quanto lhe é ministrado, sempre com distinção e bom aproveitamento.
Geralmente, aponta-se 1825 como o momento em que o jovem aluno inventa o sistema (que mais tarde veio a ter o seu nome). Todavia, apenas em 1829 publica a primeira edição do trabalho, sob o título: "PROCESSO PARA ESCREVER AS PALAVRAS, A MÚSICA E O CANTO-CHÃO, POR MEIO DE PONTOS, PARA USO DOS CEGOS E DISPOSTOS PARA ELES". Deu-lhe forma definitiva na segunda edição, saída em 1837.
O alfabeto Braille é constituído por seis pontos, em duas filas verticais de três, num total de 63 sinais.
Este processo de leitura e escrita através de pontos em relevo é usado, actualmente, em todo o mundo. Trata-se de um modelo de lógica, de simplicidade e de polivalência, que se adapta a todas as necessidades dos utilizadores, quer nas línguas e em toda a espécie de grafias, quer na música, matemática, física, etc.
A criança cega deve iniciar a aprendizagem do Braille logo que entre para a escola, para que se não sinta diminuída em relação aos companheiros normovisuais. Numa escola especializada ela tem um acompanhamento de mais duração e pode trocar impressões com as suas congéneres, mas penso que o ensino integrado é de cabal importância para o deficiente visual.
É evidente que o ensino do Braille requer uma pedagogia específica, mas os fins a atingir são iguais aos da aprendizagem vulgar da escrita e da leitura.
O ensino deve ser bem orientado, já que se reveste de grande importância em todas as áreas e ao longo do percurso escolar os alunos devem ter um técnico que domine o sistema e possua competência pedagógica para os acompanhar, atendendo a que, à medida que progridem nos estudos, novos sinais de toda a ordem vão aparecendo.
É de enorme interesse doptar os alunos com os materiais de que precisam em Braille, mentalizando-os de que este sistema é, por excelência, a sua escrita e leitura e é nele que sempre se devem apoiar.
Se houver uma leitura persistente do Braille evitam-se os reflexos negativos na escrita, sobretudo no que diz respeito à qualidade do Braille e à ortografia.
Actualmente existe uma tendência para a pouca utilização do Braille e menos esmero na qualidade. Há quem defenda que a situação se deve ao aparecimento dos livros sonoros e de toda a tecnologia ligada à informática. Creio, porém, que as novas tecnologias não anulam o Braille, até porque ele facilita o manuseamento das mesmas.
Do que foi explanado podemos retirar as seguintes ilações:
- As crianças cegas devem ingressar nas escolas na idade própria e ser-lhes ministrado o Sistema Braille.
- O acompanhamento dos alunos deve ser mais intenso nos primeiros anos de escolaridade, alicerçando os anos vindouros.
- O Braille deve ser ensinado por técnicos competentes, que o dominem em todas as suas vertentes.
- O professor de apoio deve sensibilizar os alunos para que tirem o melhor partido dos equipamentos específicos disponíveis.
- A informática, os livros sonoros e demais tecnologias específicas são manancial de extraordinários recursos para o desenvolvimento cultural dos deficientes visuais, devendo estes ter sempre presente o Sistema Braille, como instrumento insubstituível na sua educação.
Maio de 2001
Agora no Fala-me de música podes ter aulas de guitarra, presencialmente ou pela Internet.
Contacta-nos para saberes como.
Luís Oliveira
Telefone: 912938436 ou 966544836
Skype: lrouxinol