(Elaborado para expor aos alunos)
O que é a Música?
Diferentes definições e dos mais variados quadrantes tentam dar-lhe resposta:
"É a arte de exprimir sentimentos ou impressões por meio de sons. É a linguagem universal. É a poesia da alma. É a arte dos sons."
Platão escreveu que "A Música dá alma ao universo, asas ao pensamento, impulso à imaginação, encanto à tristeza, alegria e vida a todas as coisas."
Santo Agostinho definiu-a como "A arte do belo movimento."
António Aleixo poetou-a nesta quadra: "Tem a Música o poder / tornar o homem feliz / ninguém consegue dizer / tanto quanto ela nos diz!"
Mais recentemente, Leonardo Coimbra, referiu que "A primeira educação deve ser artística e as próprias virtudes morais só podem ser dadas à criança pela harmonia estética."
Já mais voltado para a origem da Música, William Man afirmou: "A Música, bem cotada entre todas as artes sofisticadas da comunicação humana, é considerada a mais antiga, a mais primitiva nos seus propósitos. Desenvolveu-se a partir dos principais ritmos e vibrações do nosso planeta, dos sons dos ventos e da água, do ar e do fogo."
Na verdade, os historiadores acordam que o surgimento dos sons se fundamentam na necessidade de comunicar. O homem primitivo imitou os sons da sua experiência com a natureza: o quebrar dos ramos, o sussurrar do vento, o marulhar da água nos regatos e nas fontes, o canto das aves, etc., que terão sido os seus primeiros instrumentos musicais.
As lendas mais remotas atribuem à Música origem divina. Dizia-se que a arte musical era um prémio atribuído pela divindade ao homem.
Há discrepância entre os historiadores sobre o que será mais antiga: a Música vocal ou instrumental. A primeira hipótese reúne mais consenso.
Wallaschek afirma que a origem da música se encontra na tendência inata no homem. Nietzsche, Spencer e Darwin filiam em determinados impulsos psíquicos a primeira manifestação musical. Combarieu defende que a origem da Música está presente na magia. O professor berlinense Karl Stumpf sustenta a hipótese dos sinais, gritos e cantos de guerra entre as tribos primitivas. O economista Karl Bücher deduz que o esforço físico tivesse sido a origem do canto e da Música.
Certezas não existem, mas podemos socorrer-nos dos elementos de estudos que nos dão as primeiras tentativas musicais da criança e a música dos povos selvagens, acreditadas como a primeira manifestação musical do homem.
Luís de Freitas Branco, acerca da divergência do que foi acima exposto, explana:
"Segundo todas as probabilidades, a primeira manifestação musical do homem foi o canto. Todas as considerações históricas, psicológicas e fisiológicas nos levam a essa conclusão. Qual foi a causa dessa manifestação? A tendência rítmica do homem? Os impulsos psíquicos? O esforço e o trabalho? Na impossibilidade de optar por uma delas, não rejeitemos nenhuma destas hipóteses. Admitamos, pois, que o homem cantou primeiro: pela tendência rítmica, por impulso psíquico, no trabalho, no recreio, na oração ou na guerra, mas não admitamos nunca que a primeira música humana não fosse vocal."
Voltemo-nos, agora, para a escrita da música e da sua evolução.
É muito longo e pouco documentado o historial da escrita musical. A Música, como tantas artes, foi-se transmitindo de geração em geração por via oral, levada a outros povos pelas correntes migratórias. Como na escrita de textos, usou-se todo o tipo de simbologia.
Por exemplo, os antigos indus da época dos Vedas (3.500 a.C.) empregavam a escrita musical por algarismos ou letras do alfabeto sânscrito. Os chineses teriam sido os iniciadores da notação musical por meio de letras e os primeiros a filiar a escala na relação da quinta perfeita, 3 tons e meio, (2637 anos a.C.).
No Império Romano, na escrita musical utilizavam as primeiras 15 letras do seu alfabeto.
Mesmo a sério, a notação musical começou por surgir, sobretudo com a função de auxiliar a memória de quem cantava e apenas mais tarde se tornou cada vez mais precisa. Principalmente, eram colocadas pequenas marcas junto das palavras, indicando o tipo de movimento sonoro a cantar. Essas marcas chamavam-se neumas, ou sinais, cuja decifração era difícil, e dividiam-se em dois grupos: punctum e virga. O primeiro, quando o movimento sonoro era ascendente e o segundo, quando o movimento musical era descendente. Neste sistema, o cantor tinha de conhecer antecipadamente as músicas que iria interpretar.
Os documentos mais antigos que se conservam, contendo neumas, datam do século oitavo. Apesar de toda a sua dificuldade e imperfeição os neumas tinham sobre a escrita musical por algarismos ou letras, a vantagem de seguir com a disposição dos sinais a altura dos sons. Este é, porém, o início da notação moderna.
Para a emancipação da música, na época medieval, a influência do cristianismo foi decisiva. Claro que a cultura musical dos gregos, dos romanos e dos demais povos antigos foi de grande importância para a Humanidade, mas tinham como pano de fundo a mitologia, os seus costumes e sentiam plasticamente. Todavia, o cristianismo, pondo acima de tudo a alma, condenando o materialismo, trouxe para a história um elemento que favoreceu o desenvolvimento da Música: a espiritualidade.
Santo Ambrósio, bispo de Milão (374-397) tornou-se o primeiro reformador importante da música cristã. Manteve quatro dos modos gregos, que mais tarde se chamaram modos autênticos e determinou os cantos que se deveriam fazer ouvir nas diferentes festas do ano litúrgico.
Como no século VI surgissem queixas sobre a falta de unidade do cantochão nos diferentes países, o papa S. Gregório (540-604) retirou do culto os cantos que julgou impróprios, restaurou outros que se tinham modificado, compôs alguns novos e adotou, além dos quatro modos autênticos mais quatro denominados plagais. Todos os cantos da liturgia cristã foram reunidos na colectânea denominada "Antifonário", pela ordem das festas do ano, sendo preso o volume a uma cadeia de ouro, sobre o altar de S. Pedro, no Vaticano.
O hino da festa de S. João Baptista foi composto de maneira que cada verso começasse num grau mais alto do que o precedente. Ao substituir a letra que indicava o som pela primeira sílaba de cada verso, passou a atribuir-se aos sons o nome que hoje têm.Por exemplo, a nota si, foi obtida juntando as duas primeiras letras de Sancte Ioannes.
Esta invenção, assim como o uso de um conjunto de quatro linhas a partir do qual surgiu o sistema de notação, diz-se que se deve a Guido d'Arezzo, que viveu nos finais do século X até metade do XI, grande teórico da Idade Média. Este sistema de linhas funcionava da seguinte forma: em cima era traçada uma linha amarela, representando a nota dó e em baixo uma outra a vermelho, que representava a nota fá. Estas eram separadas por uma linha sem cor, representando a nota lá. O som era inscrito nestas linhas por um pequeno quadrado, que indicava a sua altura precisa.
Passaram, mais tarde, a traçar-se cinco linhas, tendo uma delas uma referência que consistia numa letra ou clave, como nós actualmente lhe chamamos.
A partir do século XI o uso da pauta tornou-se habitual.
Agosto de 2000
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Luís Oliveira
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